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Depressão

     Os obstáculos com que nos deparamos nas nossas vidas podem ser algumas vezes vistos como sendo intransponíveis. Aos olhos de uma pessoa perturbada eles são aterradores. Na verdade, quando nos encontramos neste estado psicológico, não estamos propriamente a viver no presente, no aqui e agora, nem nos conseguimos projetar no futuro, no amanhã. Vivemos presos ao que foi, àquilo que não conseguimos mudar e àquilo em que supostamente falhámos.
     A depressão corresponde a uma perturbação mental que afeta a nossa capacidade de pensar e a nossa capacidade de viver normalmente o quotidiano. Distingue-se do episódio de tristeza porque esta faz parte de uma emoção humana que é eficaz a cumprir o seu papel de adaptação ou de readaptação a uma nova realidade. Existem dois tipos de depressões, aquelas que estão connosco desde os primeiros anos de vida e que se revelam num temperamento melancólico e entristecido mais ou menos constante. E aquelas que são despoletadas por acontecimentos vividos, as que se revelam na incapacidade que o individuo demonstra em adaptar-se, em formular alternativas de futuro face a uma situação marcante ou traumática.
     Felizmente, este estado psicológico e comportamental não está isento da possibilidade de tratamento. A consciência dos sinais de depressão e a pronta reação previnem o agravamento de sintomas. O apoio psicológico e a psicoterapia são boas respostas face a estados depressivos porque utilizam técnicas de desenvolvimento que promovem a reorganização mental e reforçam a auto-estima, quase sempre maltratada durante estas alturas. A psicofarmacologia, nomeadamente os antidepressivos ou os recaptadores de serotonina, são também ferramentas importantes contra a depressão. A serotonina, menos activa nestas alturas, é o químico que o nosso cérebro utiliza para nos fazer sentir mais motivados e alegres.
     Esteja atenta/o aos sintomas no caso de eles persistirem por dias ou algumas semanas: quase sempre humor depressivo; diminuição clara do interesse ou prazer em todas, ou quase todas actividades, durante a maior parte do dia; apetite diminuído ou aumentado; fadiga ou perda de energia quase todos os dias; insónia ou hipersónia; baixa auto-estima; sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada; diminuição da capacidade de pensamento ou de concentração, ou indecisão, quase todos os dias; pensamentos recorrentes acerca da morte; sentimentos de falta de esperança. Atenção também a sintomas que podem muitas vezes estar associados a alegria e bem estar mas que por serem resultados de euforia aparentemente inexplicável, podem ser considerados indícios de uma perturbação do humor. Exemplos desses sintomas são: auto-estima aumentada ou grandiosidade; diminuição da necessidade de dormir; pressão para continuar a falar; fuga de ideias; desconcentração; envolvimento excessivo em determinadas actividades agradáveis que potencialmente podem ter consequências desagradáveis.
     Evitar os pensamentos automáticos negativos, não ser realista nas expectativas, conseguir pensar de formas diferentes, envolver-se em projetos profissionais, investir em actividades partilhadas com a família ou amigos e uma simples conversa em que fale de si, são algumas das ferramentas que deve utilizar contra os sinais de uma possível depressão.
     Os sintomas depressivos precisam de ser olhados de frente e às vezes eles desaparecem apenas com alguns pequenos ajustes internos. Outras vezes podem necessitar de atenção externa e aí os profissionais podem intervir.
     O filósofo grego Epicteto dá-nos uma ajuda para aquela que pode ser a nossa atitude face à depressão: “Não são os acontecimentos que perturbam o Homem mas sim a forma como o Homem olha para os acontecimentos”.



      Hugo Miguel Duque Guerra

Ansiedade

     A ansiedade revela-se perante um perigo eminente, real ou imaginado. A angústia corresponde a um estado de tristeza profunda face à inevitabilidade do futuro ou melhor, do não-futuro. Falamos então sempre de uma projeção para o que aí vem. Pelo contrário, os problemas de depressão reportam-se ao que passou e ao que ficou para trás na vida. Um estudo recente, de 2010, coordenado pelo psiquiatra português Professor Doutor Caldas de Almeida, revela que as perturbações de ansiedade, com 16,5 por cento, e a depressão com 7,9 por cento, são as mais prevalentes na população portuguesa.
     As perturbações de ansiedade são preocupantes porque podem por seriamente em causa a nossa saúde mental e o nosso comportamento quotidiano. Elas caracterizam-se por um conjunto de sintomas físicos e psicológicos que refletem uma preocupação exagerada em relação ao futuro. É interessante verificar a origem da palavra preocupar, que vem da junção das palavras latinas pre + ocuppare, que significam respectivamente antes e apoderar-se. Quando nos preocupamos, estamos assim a apoderamo-nos de algum assunto antes do tempo certo.
     É importante também fazer a ligação entre a ansiedade e o stress. Para isso, há que dizer que ambos podem ter uma parte positiva e que também são fenómenos psicofisiológicos que servem para nos adaptarmos a situações novas ou difíceis. A nível orgânico, o stress manifesta-se pelo acionamento dos químicos cortisol e adrenalina que ativam os músculos para a ação. O problema começa quando este fenómeno se dá durante demasiado tempo ou fora de tempo, isto é, perante situações imaginadas e portanto, não reais. Por exemplo, peguemos num individuo que tem medo das idas ao dentista. Se esta pessoa pensar intensamente nas más sensações que supostamente irá sentir na consulta, acaba por experienciar os mesmos fenómenos psicofisiológicos (o stress) que ocorrem durante uma situação real. Existem portanto, neste caso, reações que se produzem de forma desadequada. É por esta razão que tanto a exaustão física como a psicológica são percecionadas e causas efectivas de perturbações graves no organismo humano.
     Estão incluídas nas perturbações de ansiedade, os ataques de pânico, que se caracterizam por sensações e percepções de apreensão, medo ou terror e que se fazem acompanhar por sintomas como falta de ar, palpitações, desconforto ou dor no peito e medo de perder o controlo. Na agarofobia, a pessoa evita os lugares ou as situações onde imagina, de forma exagerada, que a fuga será difícil. Quase sempre, os problemas de ansiedade trazem consigo medos irracionais. É também o que se observa nas fobias específicas onde a exposição a uma situação ou a um objeto temido conduz a um mau estar geral e pode resultar num ataque de pânico. O evitamento dos outros ou de situações com aglomerados de pessoas caracteriza genericamente a fobia social. A perturbação obsessivo-compulsiva é caracterizada por obsessões, as quais causam forte mal-estar ou ansiedade, e/ou compulsões, que servem para neutralizar a mesma ansiedade. Outro dos problemas que podem prejudicar de forma grave o quotidiano das pessoas é quando a sujeição a determinados estímulos (barulhos, vozes, etc.) pode reavivar as más sensações e percepções que aconteceram em experiências traumáticas. A esta perturbação, dá-se o nome de pós stress traumático porque os sintomas surgem sempre meses ou até anos após a vivência do acontecimento.
     Para todas estas manifestações sintomáticas e que degradam a saúde mental, as pessoas podem adoptar algumas atitudes e alguns comportamentos úteis, mas na maior parte dos casos devem consultar um técnico treinado para lidar com estes problemas. A resposta terapêutica consiste na psicoterapia, onde é realizado um investimento na identificação das causas que levam a pessoa a sentir-se perturbada pela ansiedade. As razões da perturbação podem-se prender com aprendizagens que se revelam inadequadas, padrões de pensamentos automáticos desadaptados e/ou características de personalidade que devem ser exploradas. Os psicofármacos, nomeadamente os ansiolíticos ou calmantes, são receitados por médicos e podem ser uma preciosa ajuda em episódios ou estados constantes de crises de ansiedade.
     Citando José A. Carvalho Teixeira, médico psiquiatra português: (…) as perturbações do funcionamento psicológico, que existem de forma transitória ou permanente são sentidas como indesejáveis porque limitam a liberdade, a autonomia individual e a auto-realização (…) Perturbam a maneira de estar no mundo, de vivenciar, de comportar-se e de relacionar-se com os outros.



      Hugo Miguel Duque Guerra

Tolerância e Resistência à Frustração

     Perder as estribeiras, perder a paciência ou atingir o ponto de ruptura. Existem pessoas que perante os mesmos acontecimentos reagem de formas diferentes. Algumas delas ficam muito alteradas e manifestam-no. Outras ficam também muito perturbadas mas não o manifestam. Guardam para dentro. E há ainda as outras que toleram a frustração e formam reações para lidar com as situações difíceis.
     As razões de existirem destas múltiplas respostas prendem-se com diferenças individuais ao nível da aprendizagem, das características da personalidade e da própria disposição, ou como se costuma dizer, estados de espirito. Ter aprendido a resistir à frustração momentânea e a ter paciência, ou se quisermos, a ser perseverante, é o elemento mais valioso num contexto adverso e é o que permite às pessoas voltar a obter benefícios provenientes do meio. Existe um estudo dos anos 60 realizado na Universidade de Stanford pelos investigadores Walter Mischel e colegas em que os cientistas procuraram perceber se o nível de resistência à frustração em crianças tinha repercussões na vida adulta. A experiência passava-se desta forma: Mostraram a crianças com cerca de 6 anos de idade alguns brinquedos e disseram-lhes que se esperassem para brincar com eles, teriam a sua recompensa, que no caso seriam doces. Alguns alunos, ao ficarem sozinhos, não resistiram e procuraram a recompensa antes do tempo previsto. De forma oposta, outros cumpriram o que lhes havia sido pedido e aceitaram que os doces só poderiam ser deles após o período de espera. Mais tarde, já em idade adulta, os investigadores puderam constatar que as crianças que tinham tolerado a frustração inicial eram aquelas que na vida adulta tinham mais estabilidade, tendo emprego, relações estáveis, capacidades sociais, etc. O estudo ajudou a concluir que a existência de competências de resistência à frustração influencia de forma positiva o sucesso na vida.
     No desenvolvimento de um ser humano existem fases fulcrais. Para a psicologia, os primeiros 5 anos de vida são dos mais importantes para a construção da personalidade futura. É a fase em que se aprende a andar e portanto na qual se começa a explorar o mundo externo e onde também se conquistam as capacidades de uso da linguagem verbal para comunicar, assim como a de reter as necessidades fisiológicas, isto é, passar do uso da fralda à casa de banho. Ao mesmo tempo que estas competências são adquiridas e que estas fases se superam, existe algo que é definitório para o sucesso futuro da criança: o conseguir-se tolerar a ausência dos pais e a capacidade de resistir à frustração de não ver algumas das suas necessidades sempre satisfeitas e em qualquer hora. Estes dois objetivos devem ser atingidos para que a criança mais tarde consiga dizer o não. Integrar a necessidade de se ser tolerante a adversidades faz com que também no futuro o adolescente e depois o adulto possam dizer o não no sentido de escolherem em consciência.
     Ora isto relaciona-se mais tarde na vida com o ser-se resiliente. Isto significa que conseguimos adaptarmo-nos positivamente a situações adversas e que temos a habilidade de manter ou reconquistar saúde mental perante momentos que nos possam provocar alguma instabilidade psicológica. O termo começou a ser utilizado no século XIX na física para descrever o fenómeno de resistência dos materiais perante esforços que exigem stress mas que não provocam ruptura. A palavra atual resiliência vem do latim 'resilire' e começou por significar ricochetear ou saltar de volta. Juntamos o prefixo 're' que significa para trás e o sufixo ‘salire’ que significa 'saltar'.
     A psicologia identifica fatores de desenvolvimento da resiliência mental. Focar-se na percepção de um futuro favorável é uma atitude que ajuda a desenvolver capacidades de resiliência. Saber confiar nas próprias qualidades pode aumentar a percepção de que é possível dar a volta por cima em situações adversas. A construção e manutenção de relações sociais consistentes com familiares, amigos ou colegas, pode ajudar a minimizar os efeitos negativos de uma experiência desequilibradora e assim, aumentar a resistência psicológica. Racionalizar ou se quisermos, conseguir explicar para nós próprios e para os outros o que nos acontece é uma forma de reduzirmos a ansiedade perante algo que é desconhecido. O psicólogo ajuda à realização deste trabalho mental, procurando organizar o pensamento nas alturas em que o individuo não o consegue fazer por si próprio.
     Quando somos resilientes estamos a conseguir voltar ao nosso equilíbrio depois de dar de caras com uma dificuldade. Como disse Mahatma Gandhi “A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.”



         Hugo Miguel Duque Guerra

Envelhecimento Ativo: Que idade temos?

       Mas qual é a idade que temos? Temos a idade que está na nossa identificação ou a que sentimos ter? Sentimo-nos mais velhos ou mais jovens? O que influencia este nosso parecer face à idade?
     Os investigadores desta área referem-se a 3 “tipos” de idade: a idade biológica, isto é, aquela que o nosso corpo enquanto organismo e conjunto de células tem, a idade social que se relaciona com o papel e estatuto que temos na Sociedade, e a idade psicológica que resulta do conjunto de competências que a pessoa mobiliza face aos vários eventos a que é exposta.
     Vários estudos demonstraram que alguns jovens tendem a sentir ter mais idade do que de facto têm, e que algumas pessoas acima dos 65 anos de idade tendem a sentir-se mais novas. E porquê? No que diz respeito ao jovem, talvez este sinta na transição para a vida adulta o “peso” da responsabilidade. Projeta-se no futuro, talvez até ambicione ter mais idade para poder realizar determinado objetivo. Já o sénior, por manter um estilo de vida saudável, e uma visão positiva face ao caminho que a sua vida tomou e que ainda há-de continuar, torna-se um agente ativo na procura do seu bem-estar, não ficando “preso” à idade cronológica.
    Assim vemos que vários fatores como a saúde, as preocupações, os afazeres profissionais, a forma como lidamos com os vários stressores,  influenciam a nossa representação e perceção face à idade.
     Então, o que fazer para nos sentirmos bem com a idade que temos, ou nos sentirmos mais joviais? No fundo o que fazer para promover o envelhecimento ativo? Adotar um estilo de vida saudável, onde corpo e mente se equilibram de forma positiva para a saúde e para o bem-estar geral; estabelecer relações interpessoais – sair, conviver, partilhar ao invés de se isolar; criar rotinas que promovam a satisfação global mas flexíveis de modo a que o nosso cérebro não deixe de pensar e refletir; criar estratégias eficazes para lidar com o stress e os problemas do dia-a-dia; olhar para o passado para que as aprendizagens realizadas nos orientem no presente, e olhar para o futuro com uma atitude positiva e de esperança.

 

     Rosa Almeida

Consulte aqui os seguintes textos sobre:

 

 

- Promoção da Saúde

- A ameaça do stress

-Assertividade​

-Depressão

-Ansiedade

-Tolerância e resistência à frustração

-Envelhecimento Ativo: Que idade temos?

     Como membros da espécie humana, somos seres que vivemos de forma gregária, isto é, juntamo-nos aos outros para nos organizarmos naquilo que podemos chamar de sociedade. Começamos desde cedo a apreender a noção de família. As crianças aprendem a identificar a mãe desde o primeiro dia de existência após o parto. Previamente, na vida dentro do útero, existe já um reconhecimento daquilo que são as características do corpo da progenitora, através, por exemplo, do batimento cardíaco da mesma. Nas primeiras semanas ou meses de existência, há posteriormente a descriminação da voz da mãe da do pai. No início das nossas vidas extra uterinas satisfazemos (ou satisfazem-nos) as nossas necessidades primárias (comer, dormir, conforto) e mais tarde percebemos que somos um e que existe um outro que não sou eu. É só entre os 3 e os 6 anos que integramos na nossa mente de forma definitiva a existência de uma tríade familiar (relação a 3). Isto quer dizer que passamos a viver mentalmente com a noção de conjunto e que viver neste conjunto requer muitas vezes diferenças na comunicação para o pai e para a mãe. À medida que o ser humano se desenvolve, ele vai sendo integrado em grupos, ora na creche, ora na escola, ora na comunidade, ora no emprego. Há uma sucessão de grupos onde a pessoa se insere e nos quais interage.

     Passar da dimensão individual para a dimensão social é então algo progressivo mas que a todos estamos sujeitos. Satisfazermo-nos fisiologicamente e psicologicamente é a nossa premissa mas aprendemos a ter que contar também com as necessidades dos outros. Se este processo é bem feito, desenvolvemos em nós as capacidades de resistir à frustração e a tolerar a diferença.

     Ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, é do desacordo, portanto da divergência de opiniões, que muitas vezes nascem soluções. Os conflitos nem sempre têm que ser vistos como prejudiciais para as partes envolvidas. A este propósito, citamos aqui Albert Einstein: ‘Uma divergência de opiniões não tem de ser vista como um desentendimento mas antes como um acontecimento’.

     Expressões como ‘é assim ou não é de todo’ ou ‘as coisas só podem passar-se da forma que eu idealizo ou então nada feito’ são expressões que refletem um pensamento totalitário Vemos muito isto nos discursos fundamentalistas que dão pouco ou nenhum espaço à tolerância ou à mudança. Pelo contrário, quando aceitamos a diferença, estamos a criar a oportunidade para que a satisfação da minha necessidade coexista com a satisfação da necessidade do outro.

     O psicólogo Daniel Goleman escreveu um livro em 1995 onde menciona uma expressão que se tornaria objeto de interesse nas organizações, empresas e universidades: o conceito de Inteligência Emocional. É dada por Goleman a importância devida às emoções e ao seu papel decisivo nos processos de inteligência. Enquanto o Quoficiente de Inteligência (QI), conceito iniciado no inicio do século XX, era o resultado de uma medição puramente intelectual e cognitiva (mede capacidades matemáticas, verbais, lógicas e outras) a inteligência emocional dá uma importância à capacidade do indivíduo reconhecer o que sente e utilizar as emoções a favor de si próprio e dos outros. A esta comunicação podemos chamar de assertiva. Em oposição a uma comunicação agressiva ou a uma comunicação passiva. Assertividade vem do latim ‘asserere’ que significa afirmar, manter ou clamar direitos sobre algo. Quando somos assertivos estamos a afirmar a nossa vontade e o nosso direito mas no entanto não entramos na liberdade do outro. Como diz o provérbio, ‘a minha liberdade acaba quando começa a liberdade do outro’. Estamos a agir, fazendo-nos respeitar mas respeitando o outro.

     Tal como noutras competências, a possibilidade de desenvolvermos a assertividade e a treinarmos é uma realidade. Não duvidamos de Nelson Mandela quando diz: “É aquilo que fazemos do que temos, e não o que nos foi dado, que distingue uma pessoa de outra.” 

 

 Hugo Miguel Duque Guerra

Assertividade

A Ameaça do Stresse

 

As pessoas sofrem de stresse quando sentem que há um desequilíbrio entre as solicitações que lhes são feitas e os recursos de que dispõem para responder a essas solicitações. Embora seja psicológico, o stresse afecta igualmente a saúde física do indivíduo. O stress é o segundo problema de saúde mais reportado, relacionado com o trabalho, afectando 22% dos trabalhadores da UE (2005).

A existência ao mesmo tempo de alguns dos seguintes sintomas pode significar que um individuo está a viver uma experiência de stress que o/a está a prejudicar. Tenha atenção aos que se seguem:

 

  • Emocionais

Irritabilidade, ira, desassossego, agitação, sensação de pressão, alterações de humor, tristeza, choro fácil, ansiedade, diminuição do prazer em determinadas actividades, etc.

 

  • Físicos

Incapacidade para relaxar, dores de cabeça, de costas ou no pescoço, fadiga, excesso de sono, maior quantidade de pequenas doenças (por ex., constipações), má digestão, perda ou ganho rápido de peso, alterações menstruais, problemas de pele, etc.

 

  • Cognitivos

Fraca concentração, esquecimento, distracção frequente, pensamentos negativos, desânimo, percepção de injustiça e de falta de valor, preocupação persistente, inflexibilidade, etc.

 

  • Comportamentais

Pressa constante, negligência com o próprio (refeições, descanso, higiene), beber, fumar, ineficácia crescente, sensação de afastamento, evitamento, dificuldade em aceitar (ou negligência de) responsabilidades, comportamentos compulsivos (por ex., jogo, sexo), atrasos sucessivos no trabalho, dificuldade em controlar impulsos agressivos, problemas legais, etc.

 

  • Relacionais

Incapacidade para lidar com as necessidades/exigências das outras pessoas, impaciência, intolerância, evitamento de companhia, controlo excessivo em relação aos outros, postura desagradável no ambiente familiar, etc.

 

A palavra stress originalmente foi transportada da física onde era aplicado à tensão que os materiais sofriam em situações de pressão. Surgiram depois as palavras eustress, aplicada ao stress positivo, aquele que nos permite estar focados e agir e a palavra distress, aplicada ao stress negativo, aquele que se torna prejudicial à saúde psicológica e física.

Ao longo dos anos, vários investigadores procuraram modelos explicativos do fenómeno do stress. Em 1932, Cannon, sistematiza o modelo de luta ou fuga, as duas possíveis reações perante uma ameaça percepcionada. A síndrome geral de adaptação, criado por Selye em 1956, fala em 3 fases no ciclo do stress: a de alarme, a de resistência e a de exaustão. Ambos os modelos anteriores consideram que o indivíduo responde de forma automática e passiva aos stressores do mundo exterior, sem considerar outros aspectos psicológicos. Em 1967, Holmes e Rahe, criam a teoria dos acontecimentos de vida onde falam no stress como consequência dos acontecimentos de vida. Isto é, quantos mais acontecimentos stressantes – conflitos, mudanças, desemprego, etc. - mais stress e consequentemente maior o risco de doença. Finalmente, Lazarus e Folkamn, em 1984, e depois Smith e Lazarus, em 1993 acrescentam que para além da existência de uma ameaça externa é a percepção de ausência de recursos necessários para lidar com a situação que faz surgir o stress prejudicial à saúde.

Existem diversas respostas ao stress e que podem ser realizadas pelo próprio individuo ou com o auxilio de um técnico como um médico ou um psicólogo.

Alguns exemplos:

 

  • Intervenções cognitivas – baseiam-se em mudanças de pensamentos desadaptativos por outros mais adaptativos;

 

Pensamentos como “não consigo”, “isto é demais para mim” ou ainda “toda a responsabilidade é minha” podem ser substituídos por “consigo se souber como se faz”, “vou dar o meu melhor” ou “isto não depende só de mim”, respectivamente.

 

  • Treino de relaxamento – baseiam-se em estimular o relaxamento muscular, a respiração coordenada e consequentemente a alta tensão arterial;

 

Podem-se realizar exercícios de relaxamento focados nos músculos e treinar a respiração para que esta promova a distenção muscular e a oxigenação do cérebro. A meditação e as massagens são também boas práticas.

 

 

  • Treino de eficácia no coping (lidar com o stress) – baseia-se na prática repetida de comportamentos que preparem o indivíduo para as situações stressantes;

 

Por exemplo, encontrar a melhor forma de lidar com prazos pode ser uma resposta eficaz ao stress. Espera-se que esta estratégia seja praticada para que os prazos deixem de ser um problema em pouco tempo.

 

Como diz Willliam James, um dos fundadores da psicologia moderna “A maior arma contra o stresse é nossa habilidade de escolher um pensamento ao invés de outro.”

Promoção da Saúde

 

Saúde é uma estado sustentável de bem estar físico, mental e social total, e não apenas a ausência de doença ou de incapacidade. Os cuidados em saúde passam por três eixos principais, o uso de fármacos, a cirurgia e ainda o cuidar de si. É neste último ponto que cada um de nós tem mais responsabilidade e autonomia para o aumento da qualidade de vida.

A psicologia da saúde é, desde os anos oitenta, uma das áreas de aplicação mais dinâmicas da psicologia. Ela tem como objetivos a promoção e manutenção da saúde, a prevenção e tratamento das doenças. Dos dados atuais, sabemos que na nossa sociedade as pessoas que recorrem aos cuidados de saúde primários fazem-no por queixas relacionadas com perturbação psicológica. Adicionalmente existem um conjunto de doenças físicas que tem como factor essencial o comportamento do doente. Estas doenças que estão associadas a estilos de vida pouco saudáveis (tabagismo, sedentarismo, etc.) e têm tido um crescimento acentuado em termos de prevalência. A mudança para um estilo de vida mais saudável e a adesão à terapêutica são determinantes da melhoria da qualidade de vida e sucesso da recuperação.

As pessoas podem realizar atividades que promovem a resposta de relaxamento (e.g. respiração, a auto-hipnose e o relaxamento muscular), a espiritualidade (e.g. meditação, o yoga, a reza), a reestruturação cognitiva (e.g. substituição de um pensamento por outro) a nutrição, o exercício físico e o sono reparador. Algumas das técnicas foram em tempos consideradas alternativas ou complementares, mas agora são mais comuns. Leia e pratique os exemplos que se seguem:

 

Respiração: Está provado que a respiração profunda promove o relaxamento e reduz a ansiedade e os riscos associados a problemas cardiovasculares. Existem dois tipos de respiração: a respiração no peito que ativa o sistema nervoso. Armazena oxigénio extra no corpo e causa excitação/medo (no caso extremo hiperventilação). A respiração abdominal promove o relaxamento. Para usufruir dos seus benefícios respire na barriga (como um bebé), de forma a que o peito fique imóvel. Pode verificar esta respiração em frente do espelho ou pondo uma mão na barriga. Requer algum treino e até pode doer um bocado no início. A vantagem desta técnica é que pode ser aplicada em qualquer momento e posição.

 

Relaxamento muscular: Sente-se confortavelmente numa cadeira ou deite-se de costas. Descalce os sapatos e desaperte a roupa no pescoço e na cintura. Feche os olhos e respire profundamente várias vezes. Concentre-se numa parte do seu corpo de cada vez, começando pelos pés, e relaxe-a. Dirija a sua atenção para as pernas, depois para os joelhos e vá subindo, relaxando cada uma das partes; Quando começar a sentir o corpo quente e pesado, imagine que está a flutuar em água morna ou deitado num local sossegado, por exemplo numa clareira cheia de sol no meio de um bosque. Mantenha-se neste estado de libertação e relaxamento durante 10-15 minutos.

 

Meditação: Feche os olhos e concentre-se na respiração. Permita que os pensamentos passem sem se agarrar a nenhum. Abra os olhos lentamente. Note a diferença nos pensamentos. Olhe em redor para a sala. Note as comparações, os juízos que vêm à mente. Note agora as expectativas para hoje. Está disponível para abrir mão delas e apenas estar aqui? Não há problema se as tem, apenas note que elas estão lá.

 

Todas estas sugestões de exercícios que pode fazer sozinho/a baseiam-se na ideia essencial de que os nossos pensamentos influenciam o estado corporal e vice-versa. Como dizia Hipócrates de Cós, o primeiro médico da sociedade ocidental: “O homem é sempre corpo, mas nunca é apenas corpo”.

 

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